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Mazorca d' Assuntos
Distraído pelos caminhos da vida fui-me afastando de mim próprio, até que um dia me olhei ao espelho e não me reconheci.
Obriguei-me então a parar e reflectir sobre o que me havia acontecido, percebi que sem dar por isso fui-me desvanecendo a cada escolha feita, muitos dos elos que tinha com o menino que saiu da casa de partida foram-se perdendo ao longo desta caminhada.
Perguntei-me o que fiz afinal de mim... como me deixei ser moldado por todo o percurso , como foi possível que me tenham sugado todas as raízes , deixando apenas este envelhecido tronco que há muito deixou de florir...
Tentei-me lembrar onde me tinha visto pela ultima vez, o que consegui foram ténues lembranças de tempos já há muito idos .
Percebi então que a Primavera para mim passou a se chamar ...Recordação!
Há dentro de mim uma permanente inquietação , uma permanente discussão sobre o que vale ou não a pena.
Há de um lado uma criança esperançosa que ainda cá permanece, tira proveito de todos os brindes que a vida proporciona , olha com um largo sorriso para o futuro , esperançosa que cada dia é mais uma oportunidade de desfrutar da bênção de estar vivo!continua a ter nela todos os sonhos intactos.
Mas há agora também um velho rezingão, que há muito perdeu a esperança , que se foi separando da juventude em cada desilusão , frustração ou sonho por realizar.
Pergunta-se como pode continuar neste caminho quando toda a cor foi tirada , restando apenas o cinza.
Como prosseguir quando nem sequer se lembra para onde queria ir , quando se deixou perder pelos tumultuosos desvios , se deixou magoar em tantas armadilhas!
O velho rezingão têm a sua razão , foi a vida que lhe trouxe sabedoria , aprendeu duramente que mais ninguém se preocupa , não sobrou quem cuidasse dele.